Onde está o macaco? Uma análise crítica da liderança em escritórios de advocacia
Entenda como a metáfora do "macaco nas costas" revela falhas de liderança e passividade em escritórios de advocacia.
Você também transfere os macacos
Em um escritório de advocacia, a metáfora do "macaco nas costas" expõe uma realidade desconfortável: os sócios, que deveriam liderar, muitas vezes não sabem como fazê-lo, enquanto os advogados, que deveriam ser liderados, frequentemente evitam responsabilidades. Os problemas – os "macacos" – são transferidos de um lado para o outro, gerando um ciclo de ineficiência e frustração. Neste artigo, vamos explorar quatro cenários típicos e responder: onde está o macaco?
O que é o "macaco"?
Clique para entender a metáfora central deste artigo.
Cenários comuns em escritórios de advocacia
Cenário 1: O sócio sobrecarregado e o advogado espertinho
Advogado: "Bom dia, sócio. Temos um problema: o cliente do caso X está furioso com o atraso no processo. O que vamos fazer?"
Sócio: "Que bom que você me avisou. Estou com pressa agora. Deixe-me pensar e te dou uma resposta depois."
Onde está o macaco? Antes da conversa, o macaco estava com o advogado, que lidava com o cliente. Após o diálogo, ele pulou para o sócio, que assumiu a tarefa de "pensar" e "resolver". O advogado, aliviado, agora vai "supervisionar" o sócio, perguntando depois: "Já decidiu o que fazer?" Sem perceber, o sócio virou subordinado ao problema do advogado.
Cenário 2: O advogado perdido e o sócio salvador
Advogado: "Sócio, o prazo do caso Y é amanhã, e eu não sei como abordar a petição. Pode me ajudar?"
Sócio: "Claro, me passa os detalhes que eu faço um rascunho para você."
Onde está o macaco? O macaco era do advogado, responsável pela petição. Ao pedir ajuda sem oferecer uma solução inicial, ele transferiu o macaco para o sócio, que agora carrega o peso de redigir o documento. O advogado apenas espera o "resgate".
Cenário 3: O sócio ausente e o advogado sobrecarregado
Advogado: "Sócio, o cliente Z ligou três vezes hoje cobrando o parecer. Você disse que ia revisar, mas ainda não recebi."
Sócio: "Desculpe, estou cheio de reuniões. Veja o que consegue fazer e me avise."
Onde está o macaco? O macaco estava com o sócio, que prometeu revisar o parecer. Ao devolvê-lo sem orientação, ele deixou o advogado perdido, mas ainda responsável. O macaco fica no limbo, enquanto o sócio se esquiva.
Cenário 4: A reunião dos macacos soltos
Advogado: "Na reunião de hoje, temos cinco problemas urgentes. Sócio, como lidamos com isso?"
Sócio: "Vamos discutir todos agora e eu decido o que fazer."
Onde está o macaco? Cada problema era um macaco nas costas dos advogados. Na reunião, todos os macacos pularam para o sócio, que assumiu a responsabilidade de decidir tudo. Os advogados saem leves, e o sócio vira um zoológico ambulante.
Por que isso acontece? Uma crítica implacável
Imagine que cada advogado transfira apenas três macacos por dia para o sócio. Em uma semana de cinco dias, são 60 macacos nas costas do sócio – uma carga impossível de gerenciar. O sócio passa o dia equilibrando "prioridades", enquanto os advogados relaxam no fim de semana, e ele tenta "colocar o expediente em dia".
Os sócios não sabem liderar: promovidos por competência técnica, eles muitas vezes não têm habilidades gerenciais. Pegam macacos que não lhes pertencem, viram gargalos e se desgastam.
Os advogados não sabem ser liderados: treinados para evitar riscos, transferem problemas aos sócios, esperando soluções prontas. Essa passividade elimina a iniciativa e perpetua a dependência.
O resultado? Um escritório onde ninguém trabalha de verdade – apenas empurram macacos.
Domando os macacos no seu escritório:
Para quebrar esse ciclo disfuncional, proponho uma abordagem revolucionária que desafia a hierarquia tradicional e força a autonomia:
- Sócios como catalisadores, não solucionadores: sócios devem parar de pegar macacos. Em vez de "vou resolver", devem perguntar: "qual é a sua solução?" Se o advogado não trouxer ideias, o sócio responde: "volte quando tiver uma proposta."
- Advogados como donos dos macacos: todo problema apresentado deve vir com pelo menos duas soluções sugeridas pelo advogado. O macaco fica com quem o trouxe até uma ação ser definida.
- Reuniões de "macaco na mesa": sessões onde advogados expõem problemas e soluções, e sócios apenas orientam. Nada de "vou pensar nisso" – o macaco sai com o advogado.
- Prazos implacáveis: cada macaco tem um prazo e um dono claro. Se não for resolvido, há consequências para ambos – sócio e advogado.
- Cultura de "macacos no chão": problemas devem ser resolvidos no nível mais baixo possível. Sócios só pegam macacos estratégicos; o resto é dos advogados.
- Treinamento disruptivo: sócios aprendem a delegar de verdade, e advogados são forçados a tomar iniciativa em simulações intensas, com feedback direto e recompensas por autonomia.
Uma revolução necessária
A liderança em escritórios de advocacia muitas vezes é uma ilusão que precisa ser desmascarada. Sócios sobrecarregados e advogados passivos formam uma receita para o fracasso. O macaco deve ficar com quem pode e deve resolvê-lo – quase sempre o advogado. Sócios precisam liderar empoderando, e advogados devem agir, não esperar.
Chega de 'bater a cabeça'. É hora de jogar os macacos no chão e construir um escritório onde todos sabem o que fazer, quando, como e porquê.